sexta-feira, 2 de novembro de 2012

NELSON CAVAQUINHO

NELSON CAVAQUINHO -  COMPOSITOR 


No dia 29/10/12 Nelson Cavaquinho completaria 101 anos, mas pelo que vi e li, poucos deram a importância que lhe cabia. O corre-corre do meu dia-a-dia fez com que minha matéria sobre ele atrasasse, mas pude soltar pequenos comentários no meu facebook. 
Então vamos lá meus amigos sambistas, aprendizes de sambistas e simpatizantes, vamos descobrir quem foi esse cara de cabelos prateados !


Fiquei surpresa enquanto fazia minhas pesquisas ao descobrir que Nelson Cavaquinho também nasceu em Vila Isabel. Ô lugar para dar bons frutos ! Será algo nas águas das nascentes da Floresta da Tijuca ?
Seu nome de batismo era Nelson Antônio da Silva.
Nasceu em 29 de outubro de 1911. A genética contribuiu para que fosse músico. O pai Brás Antônio da Silva tocava tuba na Banda da Polícia Militar e o tio Elvino tocava violino. Ambos aos domingos reuniam os amigos e organizavam rodas de samba em casa, onde aconteceu seus primeiros contatos com a música.
Apesar da mãe, Maria Paula da Silva, ser lavadeira do Convento de Santa Teresa e do pai ser da Banda da Polícia Militar (que naquela época já ganhava pouco), em 1919  a família resolve mudar-se para fugir do alto aluguel da Tijuca e primeiro instalam-se na Rua Silva Manuel e depois na Rua Joaquim Silva, ambas na Lapa. Lá fez amizade com Brancura, Edgar e Camisa Preta. Mudou-se mais algumas vezes para enfim se estabelecer numa vila de operários da Gávea. 
Já adolescente (e boêmio) frequentava os bailes de diversos clubes (o que na época era algo significativo) como o Gravatá, Carioca Musical e Chuveiro de Ouro (que acredito não existirem mais pois pesquisei e não encontrei nada atual a respeito deles). Nesse período conheceu Edgar Flauta da Gávea, Heitor dos Prazeres, Mazinho do Bandolim e Juquinha Violinista. Alguns desses músicos trabalhavam na fábrica de tecidos próxima a casa dele e assim começava a ser traçado o destino de Nelson Antônio.
Foi através das importantes noções de como tocar um cavaquinho dadas pelo violinista Juquinha que nasce o "Nelson Cavaquinho", apelido adquirido pela forma que tocava o instrumento apenas com dois dedos.
Em torno dos seus 16/17 anos compõe seu primeiro choro chamado "Queda", época que, sem dinheiro, trabalhava como pedreiro e treinava em cavaquinhos emprestados.
Após essa composição é chamado para fazer parte de um conjunto de choro e samba onde tocavam seus amigos Juquinha, Eugênio, Mazinho e Filhinho, melhorando um pouco sua situação, mas mesmo assim sem condições para adquirir um instrumento e tendo que pedir emprestado para participar das rodas. Até que um jardineiro português chamado "Ventura" se compadece da situação e lhe presenteia com um cavaquinho novinho. 
Como todo bom boêmio sempre tem muita história para contar, com Nelson Cavaquinho não seria diferente. Acreditem se quiserem mais ele se casou numa delegacia, arrastado pelo pai da moça (Alice Ferreira Neves) em 1931. Foram morar em Brás de Pina, tiveram 4 filhos e deste casamento vem a indicação para servir na Cavalaria da Polícia Militar. Para vocês terem noção da situação, o pai de Nelson alterou a certidão de nascimento dele para 29/10/1910, um ano mais velho, para que ele pudesse então ingressar na cavalaria. 
Eis que Nelson Cavaquinho e seu cavalo "Vovô" recebem a incumbência de patrulhar o Morro da Mangueira. 
Sejamos francos ! Era certamente o destino dele ser sambista, ser músico e poeta !
Lá fez amizade com os sambistas Zé Com Fome e Carlos Cachaça. Ao conhecer Cartola, na quadra da Mangueira, aconteceu mais um fato interessante. Após horas de papo seu cavalo Vovô voltou sozinho para o batalhão e lá vai ele detido, coisa que para ele já era comum pelo fato de levar uma vida boêmia. 
Encontrei um relato narrado por ele a respeito deste fato : "Eu ia tantas vezes em cana que já estava até me acostumando com o xadrez. Era tranquilo, ficava lá compondo. Entre as músicas que fiz no xadrez está 'Entre a cruz e a espada' ".
Conseguiu a façanha de dar baixa antes que fosse expulso da corporação em 1938. Separou-se da mulher, afastou-se dos filhos e ingressou de vez na boemia e na música.
Uma pessoa totalmente desapegada a bens materiais. Vendeu grande parte de sua produção para pagar dívidas, dando assim parcerias a desconhecidos e é por esse motivo que encontram-se poucas músicas compostas pela dupla Nelson e Cartola.
Assistindo "Cartola um musical documentário" vi o próprio Cartola falar que aborreceu-se com Nelson por vender uma parceria sem avisar e o próprio Nelson responde que havia feito mesmo porque precisava de dinheiro. Nada mais de parcerias e a amizade continua !
Sua melhor fase foi quando começa a compor com Guilherme de Brito, pessoa que conheceu num dos botequins da Praça Tiradentes. Era neste local que encontrava os amigos músicos, era de lá que surgiam suas letras e também era lá o cenário de diversas histórias. Reza a lenda que ele era capaz de distribuir todo o dinheiro recebido de uma apresentação aos mendigos e prostitutas e depois perceber que havia ficado sem nada para o transporte.
Esse era o Nelson Cavaquinho, homem simples, de pouca instrução, com uma voz rascante, um estilo de tocar inconfundível, que não tinha interesse em ficar rico, queria apenas viver conforme via o mundo e assim ser feliz.
Mudou-se para o Morro da Mangueira em 1952.
Em uma oportunidade, Nelson foi convidado a dar uma entrevista para o programa "Balance" da extinta Excelsior. Seu parceiro Eduardo Gudin relatou que estava dirigindo seu carro e ligou o rádio para ouvir a entrevista do amigo. Daí o apresentador pergunta a Nelson quais eram seus planos. Ele muito sutil respondeu: "Meus planos ? O Gudin vai passar aqui para me pegar e vamos beber no Bar do Alemão".
Depois de separado da primeira esposa teve vários 
relacionamentos, mas no início da década de 60 conheceu Durvalina, que era muito mais jovem que ele (30 anos), com quem viveu até sua morte. 

Em 1961 passou a frequentar a casa de Cartola e Dona Zica. É no Zicartola, na Rua da Carioca, centro da cidade do Rio de Janeiro, que Nelson inicia seus shows. 
Nessa mesma época formou o grupo "A voz do morro" juntamente com Cartola, Nuno Veloso, Zé Kéti, Elton Medeiros e Jorge Santana, grupo este que se apresentou uma única vez na televisão e depois acabou.
Fato que não posso deixar de registrar era o medo que ele tinha da morte. Suas letras simples e poéticas eram carregadas de desilusão, tristeza, angústia e pesar.
 Em "Luz Negra" : Sempre só, eu vivo procurando alguém / Que sofra como eu também / E não consigo achar ninguém / Sempre só, e a vida sai seguindo assim / Não tenho quem tem dó de mim / Estou chegando ao fim / A luz negra de um destino cruel / Ilumina um teatro sem cor / Onde estou representando o papel / De palhaço do amor...

"Violão, samba, mulheres, botequins, a soma e a essência da felicidade, a forma e a maneira encontradas de ser feliz cantando a infelicidade e de ser alegre exaltando a tristeza". Essa foi a melhor frase que encontrei descrevendo Nelson Cavaquinho. Escrita por Arley Pereira para Sesc/Tv Cultura.

Nos deixou em 18 de fevereiro de 1986 devido a um efizema pulmonar, deixando mais de 400 composições. Morreu como viveu !!!

Em 2011 em comemoração ao centenário do compositor a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira desfilou uma homenagem como samba-enredo " O filho fiel, sempre Mangueira" e a escola se classificou em terceiro lugar. http://www.youtube.com/watch?v=2vuhEKDFprY

Nas minhas pesquisas encontrei uma riqueza tão grande de material a respeito de Nelson (já me sentindo intima dele), existem centenas de livros, CDs, DVDs, a internet está repleta. Senti uma grande necessidade de falar um pouco mais a respeito deste compositor. 

Então... Em breve... Nelson Cavaquinho - Parte II


"FAÇO MÚSICAS PARA TIRAR AS COISAS DE DENTRO DO MEU CORAÇÃO E FOI SEMPRE ASSIM DESDE O DIA QUE FIZ MEU PRIMEIRO SAMBA..."   NELSON CAVAQUINHO 


Um comentário:

  1. E viva a cultura Brasileira, gostei bastante do post, mesmo não sendo um bamba, valorizo muito nossa cultura, não conhecia a história do Nelson do Cavaquinho parabéns pela profunda pesquisa.

    Estou seguindo aqui

    Abraços

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